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Ligia Cortellazzi

O espelho no tempo


Como é bom aproveitar o tempo, ir ao cinema, dormir, afinal, ter tempo.... Ter tempo? Acho tão curiosas essas frases que evocam certa posição de posse do fenômeno como: “Não tenho tempo” ou “tenho tempo de sobra” ou ainda “agora eu tenho tempo”.

Franzindo a testa, pensamentos passeiam... “Do quê ou o quê exatamente estamos falando?” O tempo parece uma caixa de ajustes de coisas, de diferentes medidas, que elegemos colocar as expectativas e ideais. Se não os couber, afirmamos que não temos tempo, mas se realizamos nossos desejos, programações de vida, aí sim, couberam e o temos!

Mas...deslocando um pouco essa referência experiencial/ideal, chego à conclusão de que ele existe independente de nós. Engulo o ar, os olhos não piscam.

São pistas, constatações advindas do real... “Nossa como o tempo passou!” ,“Já foram 12 anos de formada?!”, “Meu pai o ano que vem faz 70 anos?!”, pois é, o tempo é e nós, nossa durabilidade está sambando nele.

Uma vala na temporalidade se abre e a arte muitas vezes vem para preencher, satisfazendo imaginariamente, talvez, um dos maiores desejos da lâmpada de Aladim – o seu controle total com fins, principalmente, de corrigir (ou prolongar) a vida vivida... “Se eu pudesse voltar no tempo...” ecoa aquela fina e rastejante voz na caverna da finitude.

A ficção revela essa fantasia. Mês passado, assisti Alice Através do Espelho, filme estadunidense lançado neste ano, dirigido por James Bobin, produzido por Tim Burton, baseado no romance de Lewis Carroll.

Projeção em tela grande, com aqueles óculos de plástico para efeitos 3D. O “país das maravilhas” do entretenimento. Os businessman das grandes produções como a Disney sabem fazer do cinema um negócio muito rentável. Mas, críticas quanto a isso à parte, figurino maravilhoso, efeitos sonoros e digitais perfeitos e de um deleite pra quem gosta desse tipo de gênero. Confesso que, de vez em quando gosto de experienciar o cinema desta forma. E foi o que aconteceu. Estourem as pipocas! Apaguem as luzes.

O fato é que Alice, essa destemida heroína, capitã Kingsleigh do Wonder, graças a fiel amizade ao colorido e jocoso Chapeleiro Maluco, resolve se meter com o tempo, que no roteiro se personifica, na figura de um homem, para resolver o conflito do amigo em relação a seu passado e sua família. E aí inicia sua jornada. Um filme coberto de aventuras, um entrelace de sonho e a realidade.


Sem entrar em detalhes quanto ao conteúdo, esta continuação de Alice no país das maravilhas (2010) foi o mote para relembrar filmes como a empolgante trilogia de De Volta para o Futuro (1985/ 1989/ 1990) de Robert Zemeckis; a produção europeia de Corra Lola Corra (1998) de Tom Tykwer; o delicioso Meia Noite em Paris (2011) do premiado Woody Allen e um dos primeiros - A Máquina do Tempo (1960) de George Pal e tantas outras produções que exemplificam esse desejo do controle e das possíveis soluções que o tempo já vivido ou do que poderia ser previsível poderia nos poupar.

Lembro a primeira vez que minha sobrinha de 6 anos viu uma ampulheta e me perguntou o que era. Foi a maneira mais pontual e material que pude sentir e dizer do tempo para ela e para mim mesma. Foi bonito e difícil.

Então...o tempo passa ou nós é que passamos por ele, emoldurando números, construindo ponteiros e fazendo aniversário? Como navegamos nessa viagem? Que qualidade optamos no tempo da vigília e do sono? As luzes acendem.

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