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Como os pais contribuem para os problemas de sono dos seus filhos


Os problemas com o sono na infância são comuns, sendo que as queixas mais frequentes são as dificuldades de adormecer e os despertares durante a noite. Estudo realizado no estado de São Paulo, conduzido por Pires, Vilela e Câmara (2012), indica que uma parcela considerável de crianças pré-escolares resiste a ir para a cama (56%), apresenta dificuldade para adormecer (30%) e desperta várias vezes durante a noite (35%).

Tais problemas, bastante comuns na primeira infância, podem ter influência na forma como os pais ensinam suas crianças a adormecerem, uma vez que parte dessas dificuldades implicam em associações inapropriadas para o início do sono e/ou problemas de estabelecimento de limites.

No que refere-se as associações para inicio do sono, isto é, as condições ambientais que estão associadas ao processo de adormecer, elas podem ocorrer de modo positivo ou negativo. Associações positivas são aquelas condições que auxiliam a criança a adormecer e retornar ao sono depois de despertar, de maneira independente, isto é, sem a assistência parental. Exemplo deste tipo de associação pode ser notada quando a criança se acomoda e relaxa sem necessitar do auxílio de um adulto, como quando segura um bichinho de pelúcia ou utiliza uma chupeta. Já na associação negativa, o início do sono está condicionado ao auxílio de outra pessoa ou circunstância, na qual em sua ausência o processo de adormecer pode ser dificultado ou atrasado. Essa situação pode ser observada quando os pais necessitam embalar a criança ou dar voltas de carro para ela poder adormecer.


Crianças, cujos pais apresentam dificuldades em estabelecer limites, muitas vezes manifestam comportamentos que concorrem com o relaxamento e a acomodação, que são necessários para o processo de adormecer. Exemplos desses comportamentos referem-se aos protestos antes de ir dormir, a resistência em ir para a cama, a busca de auxílio parental ao despertar, etc. Tais comportamentos costumam ser seguidos de atenção dos cuidadores, que fortalecem essas ações inadequadas da criança. O comportamento do adulto é, portanto, uma questão fundamental na manutenção desse quadro.

Este processo pode ser explicado por meio da teoria do condicionamento operante de Skinner (1953). Esta abordagem postula que os comportamentos são mantidos por suas consequências. Quando a consequência de um comportamento aumenta a probabilidade deste comportamento voltar a ocorrer, podemos nomear esta consequência como reforço. Em contrapartida, se não ocorrem consequências reforçadoras depois da emissão de uma determinada ação, esta diminuirá em frequência, ocorrendo o processo de extinção. O reforço pode ser positivo ou negativo. O positivo constitui-se da apresentação de uma consequência atrativa após a emissão de um comportamento e o negativo refere-se a retirada e/ou evitação de um estímulo aversivo após a emissão de uma ação (Skinner, 1953).

Os comportamentos inadequados da criança muitas vezes são seguidos de atenção e colo dos pais. Essas atitudes são consideradas reforços positivos e fortalecem os comportamentos inadequados da criança. Padrões inadequados da criança no momento de dormir também podem ser reforçados negativamente. Isso ocorre quando dormir sozinho é aversivo e ao agir de determinada maneira, a criança consegue fugir da situação de dormir sozinha. Dessa forma, os comportamentos inadequados da criança são mantidos tanto por reforço positivo (por meio de colo e atenção dos pais) quanto por reforço negativo (evitar ou fugir da situação de dormir sozinho) (Meltzer & Mindell, 2011).

Os comportamentos dos pais também são reforçados, uma vez que o choro da criança pode funcionar como um estímulo aversivo, na presença do qual, o comportamento parental de “embalar” e “dar atenção” é reforçado negativamente (fuga) pela retirada do estímulo aversivo (choro). Isso ocorre quando o cuidador dá atenção à criança, por meio da permissão de dormir consigo, pelo embalo, entre outros comportamentos, justamente para cessar ou evitar o choro prolongado ou os protestos que o incomodam (Rafihi-Ferreira, Soares & Pires, 2012). Desta maneira, a criança aprende rapidamente a atrasar o momento de dormir fazendo várias solicitações de atenção, o que pode perpetuar tais problemas.

Considerando que os comportamentos são aprendidos de acordo com suas consequências, e que os cuidadores exercem papel influente nesta relação, principalmente em crianças nesta faixa etária, sobretudo porque as consequencias são fornecidas pelos pais, é importante que estes tenham uma posição que incentive o comportamento independente da criança no momento de dormir.

Algumas atitudes parentais que podem favorecer uma boa qualidade de sono:

Os cuidadores devem preparar um ambiente propício para o sono. Para um ambiente adequado, deve-se manter uma temperatura agradável no local de dormir e reduzir o nível de luz e ruído. Fatores como ambiente, horário e atividades prévias ao sono são essenciais para se dormir bem.

Pouco antes de dormir, os pais devem estabelecer uma rotina pré-sono com a criança, com horário para iniciar e para acabar, com duração de mais ou menos 30 minutos, incluindo atividades relaxantes, que devem ir em direção e terminar na cama/berço da criança. O cuidador pode acompanhar e auxiliar nas atividades pré-sono como escovar os dentes, tomar banho, colocar pijama e também preparar atividades calmas, como contar histórias e cantigas de ninar.


Para favorecer associações positivas de início de sono, convém levar a criança para a cama quando ela estiver sonolenta, mas ainda acordada, para incentivar o adormecer independente, ou seja, sem auxílio de um adulto. O estabelecimento de limites consistentes ajuda a criança a dormir de maneira independente.

Concluindo, para desenvolver e manter comportamentos que favorecem o dormir independente do(a) filho (a) e um sono de boa qualidade, os pais devem focar nos antecedentes e consequentes dos comportamentos relacionados ao sono da criança. Antecedentes referem-se as atividades prévias ao sono, isto é, rotina com atividades relaxantes antes de dormir. E os consequentes, a condição seguida do comportamento da criança no momento de dormir, como o fornecimento de atenção e elogio aos comportamentos que favorecem o sono; e extinção aos comportamentos inadequados no momento de dormir, que consiste em ignorar os comportamentos que concorrem com a auto-acomodação e relaxamento infantil.

Referências: Meltzer LJ, Mindell JA. (2011). Graduated Extinction: Behavioral Treatment for Bedtime Problems and Night Wakings in Young Children. In M. Perlis, M. Aloia & B. Kuhn (Orgs) Behavioral Treatments for Sleep Disorders: A Comprehensive Primer of Behavioral Sleep Medicine Interventions (pp 257-263). London: Elsevier. Pires, M.L.N. Vilela, C.B. & Câmara, R.L.(2012). Desenvolvimento de uma medida de hábitos de sono e aspectos da prevalência de problemas comportamentais de sono na infância: uma contribuição. In D.P.S.A. Ribeiro, H.R. Rosa, & N.S. Filho (Orgs). Processos clínicos e saúde mental. São Paulo: Vetor. Rafihi-Ferreira, R., Silvares, E.F.M., & Pires, M.L.N. (2012) A criança que não dorme: aspectos comportamentais da insônia infantile. Pediatria Moderna, 48(4), 156-159. Skinner, B.F. (1953). Ciência e Comportamento Humano. (Todorov JC, Azzi R Trad.). São Paulo: Martins Fontes.

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